de estar verdadeiramente sozinho...)
que sou eu.
Seguem-me de cara ingénua e triste, fazendo-me
pensar.
Será que de todos os cães vadios,
o mais vadio sou eu?
Tempo para a poesia.
Escrevo e apago. Volto atrás e escrevo,
outra vez. Mais uma vez. Custa escrever,sem saber
porquê... Não me sai a rima.
O verso flui branco e pálido,
como o que julgo sentir.
Escrever é tortura, repugnância, macumba maquiavélica...
(Que irritação! Que inveja! Que inquietação mórbida! Todos os demais que conheço são felizes...)
Ah, que dia horrível para me ser. Hoje, logo hoje!
O relógio, a meia-noite fatal! Porque não durmo? Dormir é esquecer...
O que há para lembrar?
Hoje! Porquê hoje?
Hoje? Hoje já não me iludo!
Hoje já não sonho! Hoje já não digo
o que querem ouvir! Hoje tenho fúria!
Hoje? Ah, hoje não me conformo!
Hoje não me calo!
Hoje? E todos os outros dias...
Escrevo contra o que sou!
Escrevo. Não sei para onde vou!
Mas escrevo.
Com medo do futuro,
Arrependido do passado,
rejeitando o presente...
Escrever é a minha parca alegria...
Espero. Espero, somente.
Espero.
Que se transforme a noite em dia...
Que se abata esta melancolia incógnita
que surgiu não sei de onde...
Quem me dera não conhecer nada!
Quem me dera ser uma caixinha onde flutuassem não
pensamentos horrendos, monstruosos, ignóbeis,
mas sim vazios. Eternos e dantescos vazios!
Quem me dera não conhecer nada!
Quem me dera não saber que há mais que isto
do que estou sujeito! Desta vida safardana, comezinha,
empanturrada de nada. Desta vida cheia de nadas.
Cheia de sonhos que são ópio, cheia de promessas que são vazios...
Quem me dera não conhecer Paris, Tóquio,
Nova Iorque ou Rio de Janeiro!
Quem me dera não conhecer o Mundo!
Outro Mundo! Outro Mundo que não está aqui!
Outro Mundo que nunca estará aqui!
Quem me dera ser simples, quadrado, obtuso,
previsível, chato, modesto, ingénuo, quedo e quieto!
Inconsequente, conformado e básico!
Quem me dera ser tudo isto e não pensar!
Quem me dera não me conhecer...
Leio-me, procurando-me
onde já não sou.
Leio-me, lembrando-me
do que já não passou.
Leio-me, esperando-me
onde sei que não estou.
Escrevo tudo como um rascunho.
Deixo folhas pairando por aí.
Escritas, de coração e punho
cerrado. Encontro-as, no Outono
do que sou, sabendo porque as escrevi...
(Meros fragmentos de um ser morno...)
Não sabendo se me vivi ou fingi...
Ao olhar para um enorme e redonda nuvem
Redonda de um branco que me promete sonhos
Dou comigo a pensar no conceito de mal e bem,
E em todos os conflitos trágicos e medonhos.
Quem dera ser tudo tão simples, tão modesto,
como esta nuvem de branco que contemplo...
Mas a fome, a guerra, e o dinheiro incesto,
brincam alados, neste nosso templo.
Templo onde oram falsos e vis profetas,
Profetas do ouro, da cobiça e da desgraça
Que tranquilizam mentes ingénuas e quietas.
Mas a nuvem persuade-me e faz-me acreditar.
Diz-me "Faz da esperança, a tua graça"
E eu acordo. E sonho querer sonhar...
Moro numa pequena vila
Onde se vê passar o Mundo
e a gente passa tranquila,
e onde se passeia um douto vagabundo.
Onde completa as tardes, o bilhar.
E onde são poucas todas as oportunidades.
Os mais novos são a vagabundear
E as velhotas comentando intimidades!
E é tal o convite à melancolia
Contemplando o verde, o vale e o rio.
Só interrompida pela alcoólica euforia,
que torna o fígado e o pensar doentio.
Ao domingo, um solitário lança o arco
e os jovens brincam, perto do rio, à bola.
Rio vazo, onde já não há nenhum barco.
E jovens que fazem da vida, escola.
No Verão é tal o furor, pela praia
esplêndida, de água límpida e gélida
Que se assemelha ao cume Himalaia.
Que logo a gente se aquece na areia cálida.
Ah, que ambiente, que convívio!
Os bares, as tasquinhas, os emigrantes
As uniões de espírito fugidio
E a união dos outrora distantes.
O Verão rapidamente desfalece.
E a gente caloira, logo o espera.
O calor, a folia, tudo desaparece.
Quando o Inverno chega, como fera.
É tempo de fazer pelo futuro
Com pouca ou muita vontade.
Ele se vier, que não venha obscuro!
A gente o espera com ansiedade...
*
Moro numa pequena vila,
Humilde, honesta e tranquila.
Onde se vê passar o Mundo...
E onde são poucas todas as oportunidades.
Tenho febre de escrever.
Tenho-me, a mim próprio, em febre.
Não parar para não me sentir morrer,
Apesar do talento que sinto ser breve.
Não quero nada por excesso.
E quero tudo em demasia.
Sou um intenso e enorme recesso
A transbordar de melancolia.
Mas nem dor sei sentir.
Dor é cansar de esperar,
Pelo futuro que há-de vir.
E que se vier, vem devagar.
Porque me iludo e sonho?
Tudo me falta ou me tarda.
E tudo, tudo é medonho,
nesta alma cheia de nada.
Ai de quem se aproxime
do que penso sequer pensar!
Toda a curiosidade me oprime.
E canso-me de tudo só imaginar...
És seca, fútil, má, invejosa
O exemplo da ignorância a granel
Tua língua discorre venenosa
Como a da serpente cascavel.
Não sei se é genético.
Não sei se é de família.
Mas teu pensar é anoréctico
E tu és o paradigma da porcaria.
Cheia de conversinhas de má-fé.
Sobes, sobes e não caís?
Fica-te lá com a tua ralé!
Não valem nem dois reais...
Somos vítimas, do nosso humilíssimo contexto.
Somos vítimas, do tamanho da nossa impotência!
E por isso, neste meu pequeno incoerente texto
me entristeço e canto toda a minha dolência...
Seremos simples e modestos, em todo o caminho.
Mas seremos Homens que se realizam!
Ultrapassando tormentas e resistências, em pergaminho
Ficam as memórias, únicas que se eternizam.
Loucura! Todos tentam ser mais que o outro.
Assim avança o Mundo, guiado pela ganância
Repugnante, tortuosa e vil como o potro.
Nós? Passaremos, serenos e mais que ninguém.
Seremos fiéis servos da constância,
que é tentar atingir o que poucos têm...
Criaste então uma personagem!
Meu velho amigo, ingénuo sabedor
Tudo o que eras esfumou-se em miragem,
e no fingir tornaste-te doutor!
Vomitas, vomitas o que já não eras
Tornaste-te actor galã minucioso
Já nada sentindo, deveras.
Eu apenas te observo, rindo deleitoso.
Denoto fingimento na emoção, na alegria
Fingimento em cada mínimo gesto!
Na comoção, e até na falsa euforia!
Contemplar-te, é acto temível e indigesto.
Ó fingimento, arma de quem não consegue ser,
como te abomino!
Insurgindo-me contra ti, quase por dever!
E tu! Quem te observa, de olhar atento...
(Oh, como me domino...)
Pergunto-me se já te olhaste por dentro?
O coração tomá-lo como surdo,
A razão deixa-la dormente.
Teu sentir é um nada absurdo
Porque do fingir és tenente!
Segues, capitalizando a ingenuidade
Juntando-a diligente, a teu favor
Sentir? Mera formalidade...
Porque já nem sabes o que é Amor!
Sentimento? Como é aborrecido.
Para ser alguém na vida, eis a tua lição.
Coração de bater frio, empedernido
E sentir? Só com a razão!
Tudo isto sabes e sobes assim na vida
Arriscando, ao desprezá-La.
Ela rasteja, mas sempre aparece, a Temida
Oh, e que gozo me dá cantá-La!
Estou lendo o Sentimento d´um Ocidental
já lido em tempos passados
Lido com olhos vários e desalmados
E só agora, o sentindo como é - imortal.
Há tanta melancolia em mim,
e na cidade, e no campo e no Mundo!
Como te percebo, ó poeta deambulador e vagabundo!
(É condição escrever de quem sente assim?)
São já nove horas da noite
e minha mãe, cansada, dorme.
Desiste. Sabes não conseguir que nada se afoite
nesta minha massa amorfa, dolorosa e informe.
Contemplei-te hoje, e vi vazio.
Esperei-te. Subi e desci, desci e subi escadas
De pensamento custoso e doentio,
que me enchia ainda mais de nadas.
Desesperei, louco de pensar!
Mas chegaste, bela e gloriosa.
Apressada, temendo não me encontrar,
E beijámo-nos, de loucura desejosa.
Como me sabem bem os teus enleios
Sei-te em cada olhar que me vês.
Como te desejo, longe de olhares alheios!
E amo-te, sempre que sei que me lês.
Oh, mas como é pouco e mínimo
cada ter-te comigo.
Dói ao escrever agora, este ínfimo
hino, para ti, meu doce abrigo.
É longa, enorme cada jornada,
apartado de ti.
Saudade. Parva, velha e antiquada,
mas que é, porque não estás aqui.
Todos somos a notoriedade que temos.
Pouca, muita, ou má publicidade
Somos todos como nos vemos.
Estranho, mas verdade.
(Nada é como o lemos...)
Portugal é um país de poetas. Portugal sempre foi um país de poetas. Portugal será sempre um país de poetas.
Poetas temo-los. Portugal é um país de poetas.
Pois bem, eu digo - Que morram todos os poetas! Com as suas ideias, escritas e canções vazias! Canções que não servem ninguém, senão os seus mesquinhos egos! Que morram todos eles! Todos!
Não é precisa poesia. O que é preciso é trabalho e modernidade. Empenho e progresso. Vivem-se tempos de crise, desde...sempre. Desde sempre! Que morram os poetas, com as suas falsas profecias, as suas crises e as suas cigarrescas melancolias!
Serão inteligentes, serão mais alto que as gentes comuns, amarão como quem morde... Farão tudo isso. Mas são inúteis! Que morram os poetas!
O Mundo não é para os poetas. O Mundo não é ócio, nem lírica! Não é sentir, nem doer. É viver, fazer e morrer! Pois, que morram os poetas!
Algo se levanta, quando alguém faz. Tudo se perde quando alguém o canta. Não são precisos poetas. Portugal é um país de poetas. Que morram os poetas! Que se levante Portugal!
demasiado cedo,
quantos homens nunca ousaram
Quantos homens há
Quantos homens nunca serão
Arlindo foi Homem, porque se soube realizado.
Foi Homem, porque nunca cedeu a arrastar-se no chão.
Tomou-lhe o gosto. E foi o que precisava ser.
Diferente.
Este Homem. O Homem a quem chamaram Vicente.
Sempre que encontra
uma porta
pela frente,
o ser inconsciente e amarelo
que é o meu gato
arranha-a,
uma e outra, e outra
vez,
com as patas.
Pára.
Não é desistir.
Mero recuo estratégico.
Olha para nós.
Pede, por favor,
para abrirmos
a porta.
(Avisa tudo isto num olhar...)
Arranha,
mais uma vez,
a porta,
que se mexe um pouco.
Entreabre.
Está quase.
Desta vez,
não pára.
Ri-se, e
lança para nós, um último olhar,
vitorioso,
antes de se escapulir
pelo inacessível, outrora
vendado pela porta.
(Quem pode clamar não haver poesia,
no dia-a-dia?)
Nas escadas
da igreja
branca, imponente e fria
sentei-me, e contemplei
os cabelos e a tez
acastanhados
de uma mendiga.
Olhei-a
(por dentro, quem sabe?)
Observei seus olhos,
amendoados e tristes,
que me souberam também.
Quis-lhe falar.
Não soube, nem sei hoje
o porquê.
Não sei agora,
se lhe queria, realmente ou não
falar.
Desviámos olhares.
Perdemo-nos de
rasto, no misto
da gente sem face.
Quem sabe onde
anda ela?
Quem sabe onde
paro eu?
Ouvi-me a alto e bom som!
Estamos no século XXI, e o país
atrasa-se.
Estivéssemos no século XI, XII, ou XX
o país atrasava-se.
Atenção.
Nunca me interessou, especialmente, o país.
Nem sei sequer o que é o Estado ou a Nação.
Interessa-me o quem e o ser
de quem convivo.
Jovens Portugueses, a verdade é que
não somos jovens alemães, ou jovens americanos,
suecos, ingleses ou japoneses!
Se fossemos, oh gloriosa mãe e pai natureza,
se fossemos porquê perder tempo,
a estudar e a querer mais?
Jovens Portugueses! Como seria bom...
Não era? Triste verdade? Não somos!
Temos de querer o mais.
Custa estudar? E crescer sem nada que nos
anime?
E sentir que se perderam oportunidades
que não voltam?
A pátria e a lusitana saudade
não me interessam!
Há falta de querer!
Jovens Portugueses!
Queiramos, pelo menos...
Desci as escadas, e saboreei
o ser ou não ser que sou.
As pessoas não são nada, avisei
o meu pensar, que logo estalou.
Reconheço, em cada pessoa, sua estória
Cada um, imagino, mas sempre me falta
coragem de lhes saber a memória.
E só a imaginação pulula e salta.
Uns passeiam, outros compram, ou estão
apenas, dolentes, grandes ou pequenas.
Todos compram, vendem ou dão.
E são várias, mas já vistas, todas as cenas.
Ah, irremediável inócuo desejo
de mudar ou de ser!
Em pouco, nada ou em ninguém me revejo
(Talvez não persista a amargura de viver...)
Talvez me perca em tantos, tantos projectos!
Fotografia, escrita, política, quiçá cinema...
Casar, ser homem de bem, ter filhos e netos...
Está bem! Que não os faça. Fique o poema.
Ocorreu-me
quando tocava piano
(e eu que não sei tocar piano)
que tudo o que faço,
para além do que me permita
ter sustento, é Arte.
A sinfonia assustava.
Nunca aprendi as nobres artes
e engenhos
que permitem encantar, tocando.
Mas, mesmo assim
para mim, o que fazia era Arte.
Nada mais era do que a expressão,
desafinada,
a alto e bom som
de um ser.
Percorria as teclas e os tons
inconsciente.
Não sabia o que fazer.
Não sabia porque o fazia.
Mesmo assim,
para mim, o que fazia era Arte.
Que angústia. Ter que ser alguém.
Não sair do que é previsto.
Ser o que esperam de nós. Mal ou bem...
Não fugir do pouco que se é, disto..
Nada disso me satisfaz!
Não quero ser ladrão, nem campeão
Quero ir indo. Passar ledo e fugaz.
Fugindo de medo de qualquer obrigação!
E ser original, diferente.
Ser vanguardista, mais à frente.
(Sem precisar de ser exemplo...)
Quero ser e sentir tudo!
Quero ser e ter o Mundo!
(Mas oro num falso templo...)
Nunca fiz nada de especial valor
Desperdicei toda e qualquer oportunidade
Nunca senti verdadeiro calor,
nem sequer amei de verdade.
Sinto a vida a escorrer
Sinto-a fugir, escapar-se de mim.
E custa-me perceber,
o porquê de tudo ser fim...
Atormenta-me cada pensamento!
Ser pequeno, grande ou maior.
(Ah, ter que viver é tormento...)
E nada, nem ninguém me acalma.
Porque sei qual a maior dor.
A de viver sem sentir. Alma?
No que escrevo não acredito.
Estou farto de filosofias, teorias malucas,
que nada, nem ninguém servem. Ou será?
Penso, e canso-me. Pensar pode incomodar
como andar à chuva, mas eu sempre a tratei por amiga.
Sei que não sou ninguém. Sei que sou pouco. Somos todos pouco.
Não servimos de nada, porque somos todos pouco.
Mesmo os que são muito, são pouco.
Ninguém é preciso! Ninguém é mudança.
Cessem todo o esforço. Cesse qualquer espécie de bulício!
Sou pouco e sou nada. Sou sozinho. Sempre o serei.
Estou farto de poucos e de muitos. Sejam e deixem ser...
Estou cheio de ser. E cheio dos outros.
Se fosse eremita, talvez fosse feliz...
Voltou o vazio! Voltou. Andou escondido, rastejou...
Mas voltou. E apoderou-se de mim.
Um misto, um enorme caldeirão de porquês, descrença,
vontades e sonhos. De saber o que fazer e de perguntar porquê.
Fico-me?
Se fosse para o exército, talvez fosse feliz...
Não precisaria de pensar...Lá seria carne para encher,
depois carne para abater...
Sou sozinho. É a verdade cruel. Sou sozinho e vazio.
Se tivesse a beldade loura, que se passeia pelo ecrã,
talvez fosse feliz...
(Porque te passeias assim, beldade loura?
Porque me iludes? Porque te passeias assim, desfilando
sonhos de veludo?)
Falsas, vãs, minímais ilusões?
Não havendo ilusão, num passo de mágica, não há desilusão.
Talvez fosse feliz, se a tivesse...
E o amanhã?
Qual a palavra que rima com presídio?
Fugir? Para onde ninguém nos conhece?
Só nos conhece quem sabe o nosso nome,
e não falo daquele com que nascemos.
(Às vezes, tenho sonhos em que parto bem longe,
de bicicleta...Acabam sempre com um pneu a furar-se...)
Sou um sozinho. Verdadeiro paradigma do solitário.
Um frustrado, um vencido da vida. Derrotado, antes da partida.
Porquê fingir? Porquê fingir? Digam-me!
No que escrevo não acredito.
Não acredito em nada, aliás.
Como nunca aprendi a falar, e mesmo não acreditando em nada,
escrevo. Não percebo o porquê. Acreditem, ou não acreditem,
é tudo o mesmo. O rio corre, e a chuva cai, como ouvia antes.
(Onde estás, ó antes?)
Escrevo, porque penso. E quanto mais penso, atenção agora,
menos vejo sentido para esta coisa vazia e abstracta.
Cria-se?
(A vida é um jogo, em que convém pensar apenas o suficiente,
para não a achar um desperdício, e viver impecavelmente
contente.)
O escrever, acreditem ou não, já o disse, é o mesmo, é um divertimento,
dum ser, eu, com tempo a mais, imaginação a menos
e pensamentos ruins e baixos.
Eu sei que riem de mim.
Sei também que não há fogo, nem inferno, não há azul,
nem céu.
Há os que são pouco, e os que são muito, mesmo sendo pouco.
Só.
Além? Não. Agora.
Toda a dor, é como a alegria.
Efémera e passageira.
(Certa vez, discutia, aterafadamente,
com uma minha colega.
Pedi-lhe desculpa por existir. Calou-se.
Disse-me que não havia desculpa para ser.
É-se, apenas. Ri como quem queria chorar.)
Antigamente zangava-me muito.
Inútil! Ser poderoso não é controlar as próprias zangas, irritações e outras coisas que tais.
Ser poderoso é controlar as zangas dos outros.
Mas, como tudo, ser poderoso é ser pouco.
Angústia de não aceitar o que sou.
E de saber que o devia fazer...
Perguntam-me porque não acredito em nada.
Não o sei. Acho difícil acreditar! Faço minha fé,
não acreditar. O resto? Faz-me vomitar...
Não, não. Ninguém sabe! Nascemos e passamos,
como o rio. Cansar? Só depois!
Febre do além? Naa... Está muito longe.
(No outro dia, perguntaram-me se eu estava bem.
Está, respondi.)
Ao escrever, ecoam-me no pensamento,
quatro simples versos.
"O poeta é um fingidor."
... Vocês sabem o resto
E perco-me no doer, no sentir, e no pensar...