quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Retratos da Cidade Branca.

(Da série Um dia escreverei assim... Encontrei este poema, primeiramente, no cd de Sam the Kid. Só mais tarde vim a saber que tinha sido escrito pelo seu pai.)

Onde estão os meus amigos?
Remotas memórias
Saltitam
Pululam
Cheiros / odores / miragens
O café
O sorriso
Olá como está!
E outras encenações
A novidade
A vizinha do 3º fugiu, amanhã vem no jornal

Ai..a imperial da Munique
Os destemidos tremoços
Moços, maçons
Canalha / navalha
Pensa coração
Amigos onde estais?

A sueca com minis à mistura
O relato da bola
A malha / copo de 3
A feira do relógio
O relógio da feira
Sandes de couratos / vinhos de Torres
Jogging de Marvila

Domingo
Especialmente domingo
Barbeados / dentes lavados
E martinis no plástico labrego
Alumínio / moderno / kitch / mau gosto
12 cordas / mãozinhas
Salteadores da razão perdida
Perdidos / enjaulados
Correio da manhã
O cu da vizinha do 9ºB
Regalo para a vista
Suplemento a cores com salários em atraso

E a Lisnave / petroquímica
Cancros do meu Tejo
Apodrecendo lentamente o azul das águas
E eu impotente / cinemascope / 35 milímetros de mim
A raiva afogada entre cubaslibres e pernas de mulheres
Que não são putas nem são falsas nem são nada
São pernas de mulheres e cubaslibres simplesmente

Paga-se a saudade com cartão de crédito

Táxi
Leva-me para onde está o meu amor
Táxi
Leva-me para lá de mim
Táxi
Atropela-me os sentidos e a alma para não deixar vestígios

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

O tempo.

Perco tempo
por tudo e por nada.
Podia ser o maior do mundo
Podia ir à Lua,
ganhar mil campeonatos
escrever mil livros,
ter mil mulheres
e pelo meio, ainda, fazer a revolução
Com todo este tempo, que me enfastia
de tanto e tão mal ocupado ser.

E perco-o,
(se é que é possível perder uma coisa
que se agarra a nós, qual gangrena...)
das maneiras mais ridículas!
Escrevo destas coisas sem sentido,
olho as pessoas na rua,
perco-me na porcaria do telemóvel
leio tudo o que não tenho que ler!
(A televisão vai-me esvaziando de mim.)
E pergunto-me, se
pedi este tempo todo.
Se sim, quero requisição
para devolver.

Tempo, deixa-me descansar
de mim...

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Pessoa faz mal à saúde.

Dou por mim, triste
de vez em quando.
"Alegra-te", a gente insiste
e eu, lá vou, sonhando.

E a ler o frustrado Pessoa
vejo-me, amiúde.
E concluo, um pouco à toa.
que Pessoa faz mal á saúde.

E é por isso que, para mim
Digo, conclusivamente
Sai de mim, ó Pessoa, coisa ruim
E deixa-me ser feliz, consciente.

sábado, 23 de fevereiro de 2008

Só.

Leio em qualquer jornaleco,
daqueles que se pegam, e que se largam sem se ler
"Os génios precisam de estar sozinhos."
E eu que não sou génio
Nem sou nada, só coisa estúpida e parva
Vou fingindo ser génio
Por querer estar sozinho.

Sinceramente nada.

Não gosto do que escrevo.
Não gosto de mim, só coisa estúpida e ruim.
Todos me irritam.
E quem mais me irrita, sou eu, sendo só.
Ah, que irritação.
Isto é para mim, só para mim!
Ouviram?
Ignorem-me, deixem-me
ser uma coisa que não sou,
ter tudo o que não tenho.
Ser perfeito ao mínimo, mínimo detalhe.
Ouviram?
E a minha escrita?
É para mim!
Com ou sem defeitos!
E o resto é nada!
É coisa ruim.
Inutilidade sem fim.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

O teatro.

Ali em cima é que está a vida.
Aquela que merece ser vivida
Aquela que não se vive, porque fingida.

Eles que estão lá no cimo.
Sabem o que é ser.
Porque não são.

Eles que recebem o aplauso, merecido ou não.
Eles que vivem, porque fingem.
Eles lá a fingir viver, e eu cá, a fingir fingir.

Estive longe de mim, incauto, inquieto.
A ver os outros ser.
E estive, sem ser, como sou.

Um observador, só e incauto.
Sempre, sempre. A vida?
Fingida ou não, já passou.

E o fingir, é ao mesmo tempo
ser, porque se finge ser.
E não ser, porque se é outra coisa, que não se é.

Fingir sempre, ao ínfimo detalhe.
O mínimo gesto, o mínimo dizer, o mínimo Ser!
Concluir, que tudo é ínfimo, que tudo é fingir.

A vida é ser os outros a passar,
e ver os outros fingir ser, passando.
E quando ela passar, é fingir ter sido...

A Cunhal.

Foice e martelo,
o teu totalitário país.
Ao vil Castelo,
tornaste-o mais petiz.

Fervoroso militante
Fizeste cair, o que estava
já de si, periclitante.
Nobre espírito, em ti, morava.

Mil vidas, clandestino.
palavras desenho luta.
Teu país, sem destino.
Utopia, tua labuta.

Errada ou não
A vida é a Causa,
Nunca em contradição.
Caíste, de pé. Uma pausa.

Europa.

Tantos países e tantos sistemas.
Cidadão, escuta, é simples, nada temas.
De todas as histórias, de cada epopeia
A maior é esta, a construção Europeia.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Vivi.

Queriam-me calmo, inocente, qual laboratorial ratinho?
Não! Tenho, em mim, a força de criar o meu sentido.
Acalmem-me, calem-me, ponham-me a falar baixinho,
Mas não me tirem a glória, de saber sentir ter vivido!

A Honra.

Se eu nunca casar...
Se eu nunca nenhuma taça ganhar...
Se eu nunca nada conquistar...

Espero que digam, quando estiver no precipício
"Nunca renegou um seu princípio."
Fico coração desfeito
e muito nada suspeito.
Se em vez de, "Homem nobre falhado."
De mim disserem,"Morreu grande, desonrado."

Não ser.

Não estou.
Não sou.
Não quero.
(Andante Incongruência ...)

Que fazer?
Talvez beber,
para de mim,
me esquecer...

(Ter-te, é um querer
Que por querer ser, nada é.
Ter-te, é não me ser.
Ter-te, é ter-me fé.)

Um dia.

Estremecer ao teu toque, frio.
(A gente que passa
Ao longe, o rio)

Amor? Gostar de teu
doce, doce calor.
Amor? Ardor meu
Saber teu sabor...

Se te amo?
Rio. "Que pergunta..."
"Não o sei, e sei-o bem."
Diria, aquele, o pai de todos nós.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Hoje sou isto, coisa ruim,
Coisa que não aquece, nem arrefece.
Coisa estranha, estúpida. Deixa-me. Esquece...
Quero desaparecer, para longe de mim...

Sinto-me sem me conseguir ser
Pior que para te dar não ter calor,
É ser um nada insosso, sem sabor...
E confessar-te que preciso de ti, para me esquecer...

E o meu querer-te, mente.
E o amar-te, sempre consciente.
Talvez não o seja um dia...

Meu desejo, loucura controlada.
Meu beijo, mera fachada.
Não ser eu. Era isso que queria.

O reflexo.

Para todos os olhares,
reparo.
tristeza angústia incerteza dor.
Penso.
Será tudo reflexo?

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Manuel.

"Que posso eu fazer?
Sim: que posso eu fazer?"

-Ó rés pública e coisas afim,
que esperam vocês de mim?

Falo-lhe hoje exangue,
a desfalecer.
Qual soldado, sem sangue,
esvaído, a morrer.

Contra-cultura?
Moi? Não, desculpe, licença.
Deixe-me que interrompa.
É de mim, minha crença
digo-o, com lisura,
que nada, rien corrompa.

E oiça, você, gente.
e, por favor, não complique.
Escute, atentamente
talvez algo em si, clique.

Eu digo-lhe, esperando solidariedade.
Nem felicidade, nem tristeza,
(- Deliro bruscamente.)
Eu sou, essa mesmo, Verdade.
Sinceramente,
Minha única certeza...

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

O conselho.

Aconselho vivamente-Domínio Público(site do governo brasileiro)
Textos, aúdio, imagens e vídeo, gratuita e legalmente, à disposição de todos.

O Ser.

Portugal, não, não é só isto.
De poeira e nevoeiro, um misto.
Que de mim, nunca digam, não.
Que fui, ou pequeno, ou grande demais,
Para ti, minha estranha Nação.

E com expectativas, pouco ou nada reais,
Escrevo, e espero, suspeito
Que daqui a cem ou mais anos,
Não digam - falsos enganos -
"Vejam como tinha razão", de meu respeito...

domingo, 17 de fevereiro de 2008

A Agostinho.

Se da língua portuguesa,
António Vieira foi imperador.
Tu foste, de certeza.
Agostinho, príncipe-conquistador!

Qual novo argonauta, desbravaste,
caminhos da literatura, no novo continente.
Que o tomaste, como teu.
Universidades e pensamento criaste.
Herói, levaste mais alto a tua gente
Com audácia, maior que próprio Prometeu!

Teu reconhecimento, adiado post-mortem.
Porquê? A gente não quer conhecer,
triste verdade. Quem a vem viver?
Portugueses, é hora. Acordem!

sábado, 16 de fevereiro de 2008

O caminho.

Por todos passo, e vou andando.
Farmácia Central, Santa Joana,
A doce pastelaria, de boa fama...
O casal, que é feliz, namorando...

Todos sigo, a olhar, imaginando.
A discussão no terceiro direito,
A filha que sai, vestida a preceito...
Escrevo assim, imortalizando...

Ou talvez não, a mim e esta gente.
Que por a tomar como minha,
sem mentira, fico feliz, consciente.
Ah, e estar contigo, minha rainha...

"Esperas por mim?", suspiro, e atrevo
pensar. A gente entra, p´rá reza.
Está na hora... Eu? Nada Lhe devo.
E sigo, passos incertos, com certeza.

Olho, e estaco, perto, beira ria.
A Praça, os velhotes e as pombas.
E tu, e eu, e nós e as nossas sombras...
"Ficas comigo?", perguntava, e sorria
Quando tua cara, para mim, luzia.

Sigo, sem pensar, para junto de ti,
atrasado, p´la longa e larga avenida.
Lojas enfadadas, vão perdendo vida.
E o desejo de gritar "Sim, eu vivi!"
Quando te sinto comigo, aqui, aqui...

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

A Negreiros. (II)

(Um dia também vou escrever assim. Incisivo, directo, provocador de consciências a haver...)

25+1 PANFLETO SOCIAL
"Eh comunistas! Eh fascistas!
Eu sei, eu sei:
“Não há esconderijo senão nas massas”!
Assim mesmo necessitais de inimigos
Chamais construir: eliminar inimigos."

Almada Negreiros.

A Negreiros.

Pintor-pensador fui...
Em mim, tod´Arte flui!

Irreverência, nome meu.
Loucura descontente,
fruto de minha experiência consciente.
Pintor Futurista e Poeta de Orpheu.

Vive o espírito de Dantas, incesto.
Insurgi-me, fiz Manifesto.

Cena de Ódio, Ultimatum Futurista.
Insana sensatez, a minha conquista!

Mas a poeira, do coio indigente,
Não sai, é permanente!
Que o derrotismo pereça...
Exijo pátria que me mereça!

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

A rotina. (II)

Ao companheiro de todas, e qualquer hora.

Os carros a passar, cheios de
caras estranhas ,
De olhares perdidos e fátuos, da pressa de chegar...
E nós, com rumo, desgovernados...

Vamos ao bilhar, deixai-nos estar...
Somos gente, não contente, não descontente, só e apenas gente.
Andamos com brio, de passos trocados...

Vamos só passar, deixai-nos estar...
Olhares portugueses em nossas faces.
Obrigados a ir, em passeios imaginados.

Passeios que nada dizem. "Olá. Como vão?", costumeira saudação.
Chegamos ao destino, em passos de desatino,
Da alma? Não sabemos, não queremos pensar...

Ao café de Dona Alice, casa da gente sem casa,
como todas enfrenta a velhice, aquela do espíritio
que vive contente, por se acostumar...

O velho da barba branca, o homem da pançuda barriga,
a cerveja na mão, as cartas, as damas, e nós e o bilhar,
A coscuvilhice da gentia gente, bola oito em frente...

O cenário mais que habitual, jogo ganho,
jogo perdido, empate de camaradas, até aí
A História se repete. Como é bom nada mudar...

A impotência.

O que é um Homem senão,
sua própria contradição?

Arte, técnica e ciência,
salvem-me desta impotência!
Impotência sentida,
pior que tudo, esclarecida!

A Carolina.

Michaelis, nome estranho.
Teu País insiste em esquecer.
Mulher, feita vontade e saber.
Primeira a, numa universidade
leccionar, nunca sem empenho.
Sem empenho, nada. Verdade?

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

A Aristides.

Carregal do Sal, distrito Viseu.
Tua terra natal.
Homem simples, consagrado imortal.
Aristides, herói meu.

Tua estória dizem-na inglória!
Só de quem não percebe da História.
Salvando renegados, foste imortalizado.
Acabaste injustiçado, abandonado.

Traição do regime, safado.
Teus dias findaram,
Em trajes franciscanos, trajado.
Ajuda teu povo, desgovernado.
São grandes, ainda não deslindaram!

A Soares.

Soares, em Portugal, Democracia
é teu nome, sem hipocrisia,
Lembrar.

No comboio trouxeste Liberdade.
Tornaste Portugal Europeu.
Orgulhosamente sós? Morreu.
Fizeste de Portugal, Humanidade.

O povo não esquece, e reconhece,
Tua figura, engrandece.
Soares, hoje és recordar!

A Delgado.

Obviamente demito-o, chave de ouro.
Assim acusaste o regime, sem peias.
Regime que assassinou todas as ideias,
que nos aproximavam do tesouro.

Tesouro, de nome Liberdade.
Humberto, teu nome vive.
Sem medo, foste verdade.
Porque a vida não é para quem só sobrevive.

Assassinado em Olivença,
caíste, desamparado e refém.
Perdeu-se o Homem.
Que fique a esperança!

A coscuvilhice.

Ah, que agradável prazer,
da vida dos outros saber.
Gente, vivam e deixem viver
A mesquinhice não é poder!

Dona Alice, quem lhe disse,
que a vida dos outros coscuvilhar,
não é beata mesquinhice?
Saber dos outros é tempo a passar...

(A vizinha do terceiro esquerdo,
o gato escaldado, o carro novo
do vizinho Norberto, a filha
e seu mau casamento.
Inoportunos rumores. Fel.)

A vida dos outros tem graça,
Para quem objectivos não traça.
De resto, é tristeza.
Viver sem nobreza.

A Pessoa. (IV)

Consciente e infeliz
Feliz e inconsciente
Dividida assim, a raiz
Simplesmente.

Pessoa,
és pai de todos nós
Os que só são, sendo sós.

A Pessoa. (III)

Angústia, do que escrevo.
Saber que sabem de mim.
Desaparecer sem fim.
Sim isso, eu subscrevo.

Do alto, só observar,
Aí sim, tudo é bonito.
Ah, e querer imaginar
que, não, nada é finito...

A rotina.

Não quero, não!
Recuso a normalidade.
Ser rotineiro, usual?
Não é aí que está a verdade.

Ser feliz é ter sustento!
Ser feliz é ter casamento!
Ser feliz é normalidade!
(Muitos serão felizes...)

Mas, ser maior é ter poesia,
Em cada pensamento...

domingo, 10 de fevereiro de 2008

O Estado Novo.

Humilde e austero, Salazar.
Teu povo tornaste servil.
Quiseste, até à morte, governar.
Da cadeira caíste, destino vil.

Pesa em qualquer português,
Tua pesada herança.
Não somos de humilde rês.
Porque nos tiraste a esperança?

Dizias que Portugal iria,
sempre na bonança, navegar.
Deixa que me ria,
Muitos quiseram acreditar...

Sempre nefasta,
da modernidade, nos procuraste livrar.
Teu povo, iletrado, recusaste educar.
Alguém disse, e bem, basta!

Pergunto-te, com sinceridade.
Qual o labor dum povo,
senão a procura dum mundo novo,
a demanda da eterna liberdade?

sábado, 9 de fevereiro de 2008

Miúdo.

Miúdo, olha para mim.
Vem ser tudo, num segundo.
Segue o sonho, sem fim.
Querendo, anseia o Mundo.

Não hesites no acreditar.
Faz-te forte, brilhante.
Não acredites no hesitar.
E brilha, mais que diamante.

Sente forte, o desejo.
Pior que não viver, é só existir,
Nunca digas, "nada almejo".
Tudo está no descobrir.

Sempre, senhor coragem.
Mas, lembra-te, sem educação,
Tudo é, só e apenas, miragem.
E miúdo, essa de nada é solução.

O Homem.

Ali jaz, cansado
o Homem que não quis ser normal.
o Homem que quis demais.
o Homem a quem ninguém quis mal.
Mas que não soube ver os sinais
de ir sozinho, sem rumo, desgovernado.

Desgovernado, acima de tudo
Sem sentido, a vida pensava.
Quis o Mundo, tudo o cansava.
Fez da poderosa escrita,
sua casa, solitária, maldita.
Sozinho acabou, cego e mudo.

Mas renasce, todo o dia
Sempre que alguém, a inércia alivia.
Nunca viveu contente,
Talvez por nunca ser indiferente.
Por vida, pensava
Dor do Mundo, em sua alma penava.

Recusava a normalidade
e a comezinha futilidade.
Via-se intrigado, fustigado,
As pessoas não compreendia.
Nunca, nunca sorria.
Ali jaz, o Homem Fado...

A Pessoa. (II)

(Pessoa, maldito.
Escreveste sobre tudo,
E tudo ficou dito.
Deixaste-me mudo.)

Lisboa Revisitada, 1923

NÃO: Não quero nada.
Já disse que não quero nada.
Não me venham com conclusões!
A única conclusão é morrer.

Não me tragam estéticas!
Não me falem em moral!

Tirem-me daqui a metafísica!
Não me apregoem sistemas completos, não me enfileirem conquistas
Das ciências (das ciências, Deus meu, das ciências!) —
Das ciências, das artes, da civilização moderna!

Que mal fiz eu aos deuses todos?

Se têm a verdade, guardem-na!

Sou um técnico, mas tenho técnica só dentro da técnica.
Fora disso sou doido, com todo o direito a sê-lo.
Com todo o direito a sê-lo, ouviram?

Não me macem, por amor de Deus!

Queriam-me casado, fútil, quotidiano e tributável?
Queriam-me o contrário disto, o contrário de qualquer coisa?
Se eu fosse outra pessoa, fazia-lhes, a todos, a vontade.
Assim, como sou, tenham paciência!

Vão para o diabo sem mim,
Ou deixem-me ir sozinho para o diabo!
Para que havemos de ir juntos?

Não me peguem no braço!
Não gosto que me peguem no braço.Quero ser sozinho.
Já disse que sou sozinho!
Ah, que maçada quererem que eu seja da companhia!

Ó céu azul — o mesmo da minha infância
Eterna verdade vazia e perfeita!
Ó macio Tejo ancestral e mudo,Pequena verdade onde o céu se reflete!
Ó mágoa revisitada, Lisboa de outrora de hoje!
Nada me dais, nada me tirais, nada sois que eu me sinta.

Deixem-me em paz! Não tardo, que eu nunca tardo...
E enquanto tarda o Abismo e o Silêncio quero estar sozinho!

Álvaro de Campos.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Pequeno manual de História.

Ai, Portugal, Portugal.
Inércia, o teu mal...

De epopeia em epopeia
suor lágrimas sal.
Desperdiçaste, sim
Quinto império, Marquês de Pombal.
Tanto ouro, do Brasil.
Fundos, da União Europeia.
Quem põe fim?

Ó Português,
Dono da tristeza vil.
Só tu pões fim à pequenez.
Grito de incitação,
de geração em geração.
Passa, mas não fica.
Passa, ninguém aplica.

domingo, 3 de fevereiro de 2008

A pergunta.

A melhor maneira de conhecer alguém é perguntar o que é que a faz feliz.
E esperar uma resposta sincera.

sábado, 2 de fevereiro de 2008

A Pessoa.

Lá vai Pessoa...
Olhar taciturno,
Navega vagabundo,
De andar soturno.
Pelas ruas de Lisboa.
Sozinho? Com o Mundo.

Desta vez, quem o governa?
Escreve ao turno,
Procura resolver, na taberna,
seu pequeno País
e seu ser infeliz.
A tristeza de pensar,
Sebastião acabar...

Falta cumprir-se Portugal,
miserável, comezinho.
( Pessoa o disse. )
As críticas tocaram,
só de levezinho.
Quantos contestaram
sua sinceridade intelectual?