segunda-feira, 24 de outubro de 2011

São Paulo.

(Escrito lá, há mais de um ano)

Percorro as linhas desta cidade-fêmea
com olhos vividos, atentos inundado
pelo furor repentista de mais uma manhã frenética
nesta Nova Iorque latina, metrópole de sangue mestiço,
Sangue de muitas gerações,
de tantas nações e diferentes credos...
Sangue adocicado ao gosto de café e pó

Fervo com este calor seco,
Com os carros que nunca param,
que transitam alucinadamente 
partindo do nada para lado algum
mas sem nunca, nunca parar. 
Estar quieto é um privilégio, 
o silêncio ode, a solidão utopia. 
Contemplar é um luxo desnecessário 
que atrapalha e inutiliza tempo e dinheiro. 

Mas, mesmo assim, insisto e demando
encontrar-me com o Sol que se põe,
na literal Praça do Pôr do Sol. 
(Quando se olha para o céu, 
as estrelas lembram que este é outro hemisfério
e que as estrelas que víamos são agora mito.) 

Apetece-me correr. Apetece-me também nunca parar. 
Encho-me de Humanismo, 
sinto-o rebater no meu coração 
e a viagem nunca pára nesta Cidade-Mundo. 
Cidade mais heterogénea, um coar magnífico de sentimento,
um co-existir tão conjunto e tão distinto 
tão frio e tão quente, perto como distante...

A desorganização da parada de ónibus 
(para mim, estrangeirismo, 
que me desculpe a Lusofonia!) 
que obriga ao diálogo
- Paradoxo, numa cidade tão pouco habituada a ele 
onde as pessoas passam, são, ficam 
( não, nunca ficam!) furiosas 
e um "Olá, tudo bem?" é muito 
para quem tão pouco TEMPO tem.
As pessoas passam. As pessoas passam, passam
Passam! 

E há guerra! 
Guerra urbana por um lugar mais confortável no ónibus, 
Guerra para chegar mais rápido ao trabalho, a casa, ao supermercado! 
Guerra só para ir, guerra apenas para não estar parado! 

Esta metrópole, esta mega-cidade, esta cidade engole, 
consome, atropela qualquer um.
Esta cidade tira muito mas também dá muito. 
Esta cidade tem todo o Mundo e todo o Brasil. 

Nova Iorque outra vez na minha mente 
enquanto me sento em pé na varanda 
e aprecio o silêncio lusco-fusco noturno...

- Central "Ibirapuera" Park, 5th "Paulista" Avenue 
- e o hino de Alicia Keys faz-me viver mais este sonho... 
Paraíso caótico, céu brasileiro e desigual, 
o som não-onomatopeico dos helicópteros 
e o som violento do dia-a-dia. 

Percorro as linhas desta cidade-fêmea 
E encontro-me comigo.
Lembro o tanto pouco que passou. 

Cidade mais magnífica nunca eu vi. 
(E ainda não te conheci...)