uma dívida para contigo. Prometi que te amava para sempre e ontem esqueci-me de o fazer.
domingo, 31 de agosto de 2008
sábado, 30 de agosto de 2008
Sunshine.
porque não me conheço.
Tu conheces-te ou tens a
faculdade das pessoas complicadas
de ser sempre um alguém novo?
- Eternamente desencontrado
do alguém que se quer ser.
Conheci-te ( mesmo que ainda
não te conheça) a sorrir.
E agora, sei que errei, e que erraste
e que estamos onde não sabemos estar.
E que se sorris e se eu sorrio,
por vezes, é um sorriso cheio de dor,
que escondo, que finjo não sentir,
mas que, como avalanche, volta
quando volta o vazio, o hábito, a solidão.
Falo de mim, porque sou, e ser é ser
egoísta. Esqueci o teu dia ( todos os dias
deviam ser os nossos dias, os dias
de sermos especiais), absurdamente
e sem razão, esqueci o teu dia.
E não sei se te magoei, nem sei se te
magoo em cada gesto, irremediavelmente
frio, eternamente desagradecido, ingrato,
frio, frio, frio, desprezível pela irracionalidade
de não (me) acreditar.
Não falarei mais de mim. Aceita, por favor,
aquilo que se devia evitar, mas nunca, nunca
se evita. E continua a agraciar-nos com
a beleza dos teus gestos, a leveza do teu sorriso
e com as tuas palavras
ora doces, ora amargas, que nos acolhem,
nas sextas e nos sábados em que somos
os últimos a sair.
Dez palavras de nós.
- Para nascer, precisei de ajuda. Para viver, de ajuda precisarei.
- Tudo o que fui, esqueci. O que serei, não sonho.
- Cagada, inconsciente, feliz, bebâda, consciente, idealista, racional, sonhadora, confusa, feliz?
sexta-feira, 29 de agosto de 2008
O segredo.
Na tua vida,
vai sempre haver momentos,
que preferias ter passado
doutra maneira.
Pessoas, que
te magoarão,
que te farão falta,
ou ter saudades.
Situações
em que desconfiarás se
existe um Deus,
ou sequer se é justo.
Na tua vida,
vais fracassar,
cair espectacularmente
ao chão e
mergulhar em toda
a lama.
Na tua vida,
sentir-te-ás, muitas vezes,
sem apoio, abandonado,
descrente.
Na tua vida,
vão haver perguntas,
muitas perguntas
e poucas, sempre
menos, certezas.
A tua vida,
já o viste,
não vai ser fácil.
Mas, na tua vida,
tens escolha.
Sempre.
Porque a vida
é a maior obra criadora
torna-te
o seu mestre.
E surpreender-te-ás,
ao perceber
que tens tempo para tudo.
Prisão.
Silêncio, que eu vou ser feliz!
Feliz, feliz para toda a eternidade
Esquecer todas as mágoas e a saudade
E ser tudo o que sempre quis!
Vou fazer as malas para a insanidade!
Vou esquecer tudo o que não fiz!
Ser campo, mar, serra, infinidade!
E perder o significado do que é ser infeliz!
Louco de mim, atingirei a redenção
Porque sou sempre o que não se contenta
Foi na loucura que encontrei a melhor maneira de ser são!
(E é o querer fugir de tudo, sem conseguir!
- a pior prisão é aquela que se inventa -
E agora, que fazer, que estou louco, sem de mim poder fugir?)
E é amar-te assim.
Nunca acreditei no amor.
E agora,
se te peço para
estares comigo
sei ser puro egoísmo.
Porque, sabes,
habituei-me a ti.
Ao teu sorriso,
sempre que caminhávamos
em direcção do outro
vindos do comboio do infinito,
onde mora a saudade.
Habituei-me ao teu olhar,
desconfiado, esperançoso,
longe de tudo, sonhador...
Nunca acreditei no amor.
Mas, sabes, habituei-me
às tuas mãos em mim.
Às tuas mãos pequenas,
com as marcas daquele acidente
de que me falaste e que não ouvi.
Sim, habituei-me ao teu toque.
Nunca acreditei no amor.
Mas habituei-me.
Até a sentir-me inútil ao teu lado.
(Nunca acreditei em amar alguém
superior a nós. É por isso
que não me afeiçoo a Deus.)
Habituei-me a lidar com o
seres perfeita. Perfeita não,
mas cintilante, radiosa, útil.
- O que éramos, somos
nós sem direcção -
Nunca acreditei no amor.
E não me vais ouvir dizer
como precisava de um beijo teu.
Porque se te quero comigo
é porque não preciso de mim.
quinta-feira, 28 de agosto de 2008
Revolta.
Tenho pena de todos aqueles
que não podem sair do mesmo lugar,
São como eu. Mas como em mim viverá neles
o desejo louco de avançar?
Imóvel, quero viver o vento do caminho
os crepúsculos que enebriam, as livres noites de luar,
a vida sem limites, sozinho
ou com quem, por instantes, me quiser acompanhar.
Ó ânsia sempre nova de explorar o Mundo!
P´ra te obedecer entrei assim
na minha alma e não encontrei fundo...
Dizem que o Universo é curvo e lá tem fim.
O meu não tem; ou então é profundo...
Curiosidade maldita! Perdido seja eu que mergulhei em mim!
Jorge de Sena.
quarta-feira, 27 de agosto de 2008
Sonho.
E as crianças brincam de ingénuo entusiasmo
O vento sopra, sopra, sopra longe e frio
Encho-me de pensamentos de um absurdo doentio
Sonhando-me neste meu eterno marasmo.
E sinto-me cheio, cheio, cheio de vazio!
Ditadorzinho.
É um daqueles seres provincianos
(no sentido de ser iletrado, sem cultura)
com poder para coisa nenhuma, com danos
sem engano, e cargo por ganância e usura!
E eu pergunto-me por quantos mais anos
Por quantos mais anos, esta amargura
de ver um reles aprendiz dos antigos tiranos
a fingir-se perito na sua reles a dita, a dura!
E se o ditadorzinho ficar irado, possesso!
Mesmo que me instaure uma queixa, um processo
Mesmo que me fique com os meus últimos cobres
Mesmo que me faça quebrar até aos cacos
Não, não serei mais um dos pobres...
Não, não serei mais um dos fracos!...
segunda-feira, 25 de agosto de 2008
Ítaca.
Quando começares a tua viagem para Ítaca,
reza para que o caminho seja longo,
cheio de aventura e de conhecimento.
Não temas monstros como os Ciclopes ou o zangado Poseidon:
Nunca os encontrarás no teu caminho
enquanto mantiveres o teu espírito elevado,
enquanto uma rara excitação agitar o teu espírito e o teu corpo.
Nunca encontrarás os Ciclopes ou outros monstros
a não ser que os tragas contigo dentro da tua alma,
a não ser que a tua alma os crie em frente a ti.
Deseja que o caminho seja bem longo
para que haja muitas manhãs de verão em que,
com quanto prazer, com tanta alegria,
entres em portos que vês pela primeira vez;
Para que possas parar em postos de comércio fenícios
para comprar coisas finas, madrepérola, coral e âmbar,
e perfumes sensuais de todos os tipos -
tantos quantos puderes encontrar;
e para que possas visitar muitas cidades egípcias
e aprender e continuar sempre a aprender com os seus escolares.
Tem sempre Ítaca na tua mente.
Chegar lá é o teu destino.
Mas não te apresses absolutamente nada na tua viagem.
Será melhor que ela dure muitos anos
para que sejas velho quando chegares à ilha,
rico com tudo o que encontraste no caminho,
sem esperares que Ítaca te traga riquezas.
Ítaca deu-te a tua bela viagem.
Sem ela não terias sequer partido.
Não tem mais nada a dar-te.
E, sábio como te terás tornado,
tão cheio de sabedoria e experiência,
já terás percebido, à chegada, o que significa uma Ítaca.
Konstantínos Kaváfis.
Sem título.
Penso em ti no silêncio da noite, quando tudo é nada,
E os ruídos que há no silêncio são o próprio silêncio,
Então, sozinho de mim, passageiro parado
De uma viagem em Deus, inutilmente penso em ti.
Todo o passado, em que foste um momento eterno,
É como este silêncio de tudo.
Todo o perdido, em que foste o que mais perdi,
É como estes ruídos,
Todo o inútil, em que foste o que não houvera ser
É como o nada por ser neste silêncio nocturno.
Tenho visto morrer, ou ouvido que morrem,
Quantos amei ou conheci,
Tenho visto não saber mais nada deles de tantos que foram
Comigo, e pouco importa se foi um homem ou uma conversa,
Ou um povo omitido do mundo,
E o mundo hoje para mim é um cemitério de noite
Branco e negro de campas e árvores e de luar alheio
E é neste sossego absurdo de mim e de tudo que penso em ti.
Álvaro de Campos.
quinta-feira, 21 de agosto de 2008
Dedicado.
todo o amor do mundo não foi suficiente porque o amor não serve
[de nada. ficaram só
os papéis e a tristeza, ficou só a amargura e a cinza dos cigarros e
[da morte.
os domingos e as noites que passámos a fazer planos não foram
[suficientes e foram
demasiados porque hoje são como sangue no teu rosto, são como
[lágrimas.
sei que nos amámos muito e um dia, quando já não te encontrar em
[cada instante, em cada hora,
não irei negar isso. não irei negar nunca que te amei. nem mesmo
[quando estiver deitado,
nu, sobre os lençóis de outra e ela me obrigar a dizer que a amo
[antes de a foder.
José Luis Peixoto.
Feliz.
Eu fui sempre o paradigma
da mediocridade,
o aluno do canto da
sala, disperso em si
o futuro-qualquer-coisa
sem história, nem resquício
de interesse
Eu fui sempre o sonho
sem caminho
a vontade sem força
a luta sem causa
a causa sem luta
o jovem sem capacidade
o velho sem conhecimento
Eu fui sempre o puto
arrogante
que escrevia
a perguntar-se porquê
E, quando me li,
tive vergonha de mim.
domingo, 17 de agosto de 2008
Rapidinha.
Tudo o que guardarão da minha vida
será a absurda recordação da
minha falta de jeito para viver
A vida irrita-me como um
mosquito impertinente
que tento afastar de mau-grado
com o jornal que não tive vontade
de ler
(Há tão pouco para fazer
E tão pouco por que lutar)
Sei bem o que sou
Sou o que sou
mas não o que queria ser
Talvez fosse mau
se eu me importasse
com o que sou
Também sei muito bem
o que não quero
Infelizmente
não sei o que quero
Não sou nada
Sou alguma coisa
um acaso
uma omissão
a fronteira entre o vazio
e coisa nenhuma
a saudade do mundo
o mosquito impertinente
que matei com o jornal
que não tive vontade
de ler
domingo, 3 de agosto de 2008
Carpir.
Eu não quero esperar uma vida inteira,
para que digam de mim,
"Ah, sujeito dedicou uma vida inteira a tal..."
Eu não quero esperar uma vida inteira,
pelo reconhecimento que só se têm
depois de uma vida inteira!
Uma vida inteira!...
Mas, é tanto tempo,
para quem está já tão cansado de existir...
Perdoem-me, ó convenções!,
não esperar grande coisa da vida inteira...
Quero morrer cedo...Sim,
quero que digam de mim...
"Ah, se sujeito tivesse dedicado uma vida inteira
a tal... Que pena foi, ter morrido assim tão cedo..."
Quero um coro de carpideiras no meu funeral
a chorar o que eu podia ter sido,
se tivesse paciência para a vida inteira!...
sábado, 2 de agosto de 2008
Ficção.
Não.
Já disse que não.
Já disse que não paro.
Deixem-me mergulhar fundo,
na minha prolixa inutilidade.
Mergulhar de cabeça com
o gosto absurdo de nadar
num rio com a foz em lado algum.
Eu sempre fingi perceber a História,
e gostar da Literatura, e de estudar
as grandes obras clássicas, os tratados,
as dinastias, e as dissertações dos Mestres!
Ah, como gostar dos maiores aborrecimentos da História!
E fingi gostar dos elogios das almas
caridosas, que pensavam que eu gostava
dessa prisão, a que se chamou pensar.
Ah, ficção de sujeito!...
Que riso macabro que não me apetece soltar
ao lembrar, estupidez, que elogiavam
um bandalho que não sabe ser!
Bocejo.
-Estes são os dias vazios em que nada acontece,
podia ser o nome do romance que vou ter a glória de não escrever.
Sinto-me cada vez mais sozinho.
Não sei onde estão os meus amigos...
E eu, tão propenso a melancolias,
tão fraco de espírito, tão prolixo na minha descrença,
queria somente uma mapa do porvir.
Apetece-me chorar. Sou um farrapo humano.
Tenho saudades dos amores que não tive e dos troféus que só sonhei...
Ah! Escrever infinitamente até
resolver o Mundo ou me resolver a mim!
Está tudo em que não pensa.
Em quem não pensa.
Em quem não pensa.
Em quem não pensa.
Vingo-me dos reles, dos preguiçosos,
dos vis, dos cobardes, das corjas pútridas,
do Mundo... Vingo-me de já não saber o que sou!
Neste absurdamente inútil gesto de escrever...
Às vezes, perco-me imaginando porque vivem os outros,
os desgraçados, os da sem-fortuna
e penso sentir uma mágoa infinita,
que nunca saberei descrever, por não encontrar resposta.
Mas alegro-me por eles, por serem eles e não eu.
Mas esperem...
Onde é que eu já ia sem travões
na auto-estrada do que não há?...
(Ah, o longo bocejo de fingir ter escrito
tudo isto!...)
sexta-feira, 1 de agosto de 2008
Insónia.
Toda a noite não dormi.
(A solidão que não me larga.)
Nada do que penso escrevo
porque o que penso,
não serve para ser escrito.
Tinjo-me da insípida
cor da falta de glória.
Desmascaro os meus sonhos.
Atiro a razão pela janela.
A minha alma é uma cidade
fria, sem rio, nem mar
onde não estou.
Ah, vida! troco-te
por uma boa noite de sono!...