Ao cair constante da chuva
vejo a tua metódica face e acordo
acordo de raiva, maltratando a inocente
almofada
"-O que te falta? Porra, o que te falta?"
Trechos de uma vida metódica, analisada
Passagens de frios guerreiros enfiados
neste mesmo campo de batalha - casa.
O eco da pergunta que não foi feita
balanceia-se, fluí triste.
E somos os mesmos, adormecendo de raiva
perguntando o que falta? o que falta?
quarta-feira, 23 de dezembro de 2009
Casa.
quarta-feira, 11 de novembro de 2009
Train rides are the loneliest of rides.
Train rides are the loneliest of rides.
Inside the deep white bright
Keeps you from peeking to the sides
Where there's the dark, the night.
And you are only you, trapped, clueless.
Only you, and Space and Time -
strange concepts. Without success
you try to write, you try to rhyme...
sábado, 24 de outubro de 2009
Si simple.
Vem-me muitas vezes à memória,
fluindo como as ondas suaves,
que contam a nossa história,
aquele dia, aquela praia, as saudades...
Do dia em que fomos completos,
Da praia em que fomos amados...
sábado, 19 de setembro de 2009
Days.
What are days for?
Days are where we live.
They come, they wake us
Time and time over.
They are to be happy in:
Where can we live but days?
Ah, solving that question
Brings the priest and the doctor
In their long coats
Running over the fields.
Philip Larkin.
segunda-feira, 14 de setembro de 2009
Ironia.
Maior arma contra dantesco penedo
-Incúria, tristeza, vileza e desgraça
Santo remédio de uma velha traça
- Um apático País parido a medo…
Amargo veneno, a um tempo, forte e ledo
Libertar garrido de gasta mordaça
Justiça glacial contra a comum trapaça
Dos mestres, sabiamente, maior segredo!
Ironia, sadia, pura e límpida Divindade!
Limpa o torpe lodo, a suja lama
Purifica as Letras e aquece seus beijos frios
Tomado por teus olhos macios
Ledo, adormeço em tua doce Fama
Colhendo as rubras flores da Verdade!
sexta-feira, 11 de setembro de 2009
Eça de Queiroz.
A vida!... Essa coisa misteriosa
Às vezes, doce e colorida
Outras, massa cinzenta e indefinida!
Matéria-prima de tua inspirada prosa!
Feia coisa, pardacenta e indecorosa
Essa, a de falhar a reles vida!
Mas, que resta, se ela não é se não descida?
Inspiração bruta de tua suave glosa!
Ah, figura sóbria, peregrino do Mundo!
percorro tuas páginas, resplandecente
feliz e iluminado, como tu pelo brilho do Oriente!
Mas, vindo de ti, sinto um suspiro profundo:
«-O que é Tudo, senão um doce engano?
Paixão? Querer? Correr? Só atrás do americano!»
sexta-feira, 7 de agosto de 2009
Bênção.
Descendo à Terra, Lhe disse solenemente
«- Homem, tudo isto é teu pertence agora
Aqui permanecerás, tranquila e serenamente
E aqui passarás, até que chegue tua hora»
E o Homem, inquietando-se, subitamente,
perguntou: «- Mas, e a Esperança onde mora?
Nada me resta a não ser a Demora? »
«- Não! Nada mais! » rugiu Ele, firmemente.
«A vida não é mais que uma roda de viver
Onde o Bem e o Mal vivem a perdurar
E os dias são teus até o teu Eu acabar
Que seja tua missão a eterna mudança acolher
E tua pior maldição, ao meu repto desobedecer
Eis teu maior pecado, Homem: ambicionar!»
sábado, 18 de julho de 2009
Ad eternum.
Fé misteriosa move os grandes d'uma nação
Desejo louco, enigmático, obscuro
Um tudo indistinto entre sentimento e razão
A invenção, a ideia corpórea do Futuro
Algo que morde, que não acalma o coração
Um querer sem quartel, sem poiso seguro
Talvez mágoa, talvez mera inquietação
Um sentir, um ver, um almejar limpo e puro
Fé misteriosa, sem definição, nem Nome
Saciar impossível de uma incógnita fome
Um correr sem percebida necessidade
Na demanda de algo grande, de maior
Busca d'Amor, da Luz, da Verdade
- o Eterno, meu Mestre e meu Senhor!
segunda-feira, 13 de julho de 2009
A Manuel Alegre.
Duro desafio, derradeiro dilema
A escolha: rés-pública ou a amada poesia?
E uma estranha dor, um estranho problema
- A visão do mais além, do novo dia
Assim, a pena leve, mas quiçá amarga, desfia
O sonho nas linhas do teu eterno poema
E o desejo incontrolável de fim à apatia
Na tua amargurada garganta é principal tema
Sem perceber porquê esperar do Céu
O porvir, o santo-Graal, o almejado sentido
Um Portugal que não volta, o que podia ter sido
O fim desta inquietação, desta ânsia
O novo Mar, o Fim, a distância!
-Pátria Amada, sonho teu, sonho meu …
sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009
Só (as minhas) palavras escritas.
Pois que a vida não deve existir,
nem ser escrita.
Não parti, porque afinal nunca cheguei.
Estou aqui, na terra de todos aqueles que
não se conhecem, estendendo-te a mão.
Querias ser como eu? Não queremos
ser todos algo que não somos? É
duro reencontrarmo-nos, sim.
Nunca soube, nunca perceberei
se o hábito, a rotina, essa solidão
é prenda ou veneno... Tu sabe-lo?
Assim, escrevo como se
tudo fosse perguntar.
E cá vou andando, nunca partindo,
nunca chegando...
terça-feira, 10 de fevereiro de 2009
Na biblioteca,
fingindo-te distraído,
por entre olhares que julgas
- em antecipação-
como perdidos,
sonhas acordado e procuras
amor como só o conheces
do cinema.
Suspiras, será ela?
misteriosa leitora de Brecht
Enquanto te perguntas porque não
te devolveu o olhar
apalpas suavemente
uma página do teu poeta
favorito e só assim
frio, longe, morto
pela substância do tempo
sentes o amor
em que já deixaste de acreditar...
O que vale é que há sempre
o que o outro dia nos traz, não é?
terça-feira, 20 de janeiro de 2009
One of those days
you get nothing done
One of those days
you feel like shooting a gun
One of those days
that your energy is on a new low
One of those days
where it only rains on your window
One of those days
that you fell like a joke
One of those days
you would talk French for a smoke
One of those days
you have forgotten to dream
One of those days
you can not even scream
One of those days
you don't want to hear her sing
One of those days
that you are no living thing
One of these days...
domingo, 11 de janeiro de 2009
A uma mosca estúpida.
A mosca voou
uma, duas, três,
um infinitamente irritante
número de vezes,
contra o candeeiro
atráida pela sua luz.
Que mosca estúpida.
(Não seremos todos
moscas, a voar perdidos,
eternamente aos encontrões,
irritados, atraídos por um
ideal brilhante
que não sabemos que
fundo guarda?)
Que humanos estúpidos,
pensará ela...