(Escrito lá, há mais de um ano)
Percorro as linhas desta cidade-fêmea
com olhos vividos, atentos
inundado
pelo furor repentista
de mais uma manhã frenética
nesta Nova Iorque latina, metrópole de sangue mestiço,
Sangue de muitas gerações,
de tantas nações e diferentes credos...
Sangue adocicado ao gosto de café e pó
Fervo com este calor seco,
Com os carros que nunca param,
que transitam alucinadamente
partindo do nada para lado algum
mas sem nunca, nunca parar.
Estar quieto é um privilégio,
o silêncio ode,
a solidão utopia.
Contemplar é um luxo desnecessário
que atrapalha e inutiliza tempo e dinheiro.
Mas, mesmo assim, insisto e demando
encontrar-me com o Sol
que se põe,
na literal Praça do Pôr do Sol.
(Quando se olha para o céu,
as estrelas
lembram que este é outro hemisfério
e que as estrelas que víamos são agora mito.)
Apetece-me correr. Apetece-me também nunca parar.
Encho-me de Humanismo,
sinto-o
rebater no meu coração
e a
viagem nunca pára nesta Cidade-Mundo.
Cidade mais heterogénea,
um coar magnífico de sentimento,
um co-existir tão conjunto e tão distinto
tão frio e tão quente, perto como distante...
A desorganização da parada de ónibus
(para mim, estrangeirismo,
que me desculpe a Lusofonia!)
que obriga ao diálogo
- Paradoxo, numa cidade tão pouco habituada a ele
onde
as pessoas passam, são, ficam
( não, nunca ficam!) furiosas
e um "Olá, tudo bem?" é muito
para quem tão pouco TEMPO tem.
As pessoas passam. As pessoas passam, passam
Passam!
E há guerra!
Guerra urbana por um lugar mais confortável no ónibus,
Guerra para chegar mais rápido ao trabalho, a casa, ao supermercado!
Guerra só para ir, guerra apenas para não estar parado!
Esta metrópole, esta mega-cidade, esta cidade
engole,
consome, atropela qualquer um.
Esta cidade tira muito mas também dá muito.
Esta cidade tem todo o Mundo e todo o Brasil.
Nova Iorque outra vez na minha mente
enquanto me sento em pé na varanda
e aprecio o silêncio lusco-fusco noturno...
- Central "Ibirapuera" Park, 5th "Paulista" Avenue
- e o hino de
Alicia Keys faz-me viver mais este sonho...
Paraíso caótico, céu brasileiro e desigual,
o som não-onomatopeico dos helicópteros
e o som violento do dia-a-dia.
Percorro as linhas desta cidade-fêmea
E encontro-me comigo.
Lembro o tanto pouco que passou.
Cidade mais magnífica nunca eu vi.
(E ainda não te conheci...)
segunda-feira, 24 de outubro de 2011
São Paulo.
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