sábado, 11 de outubro de 2008

Travessa da Pena.

-Anoitece no Porto e em mim.
As gaivotas ecoam pelos ares, acompanhando
o murmúrio longínquo do rio.
Reles, contemplo os cadáveres sumiços.

Porque é que falamos do que não
temos força para fazer?
Porque é que não dizemos o que
só pode ser escrito?

Quero fazer. E calar as gaivotas até ao infinito.

Saber é tanto uma prisão, como
um contentamento, mas leve, sempre leve
que nos prende, impiedoso como a chuva
de Novembro.

Elas voam, voam para longe de mim.
Cansado de nascença, triste de tudo,
infinitamente complexo, estapafúrdio.


Quero cantar as minhas letras,
congelar o tempo, o Mundo, a relatividade.

-Se ao menos me perdesse sem jamais me encontrar
nos teus olhos. Mas tu sabes, tão bem quanto eu,
não existir.

(Não existes, desistes.)

Escrever, vão egoísmo.
Palavras, como as gaivotas, larguem-me,
não se calem, nem me regressem.

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